Já ouviu falar em silagem de colostro?

06:13 Unknown 0 Comentarios


Recentemente fui questionada sobre o uso de colostro fermentado ou silagem de colostro na alimentação de bezerras e, embora este tema tenha sido amplamente estudado nas décadas de 60 e 70, verifiquei que ainda existe demanda por este tipo de informação. Aliás, a médica veterinária da Emater/RS- Pelotas, Mara Saalfeld, desenvolveu um protocolo de conservação através de fermentação para produtores da região e foi uma das finalistas do prêmio "Tecnologia Social", promovido pela Fundação Banco do Brasil, Unesco e Petrobrás.

Segundo a notícia de jornal, os produtores da região jogavam o colostro excedente fora, muito embora este alimento seja largamente utilizado no aleitamento de bezerros em diversas regiões do país. O protocolo desenvolvido pela veterinária possibilitou uma economia significativa para estes produtores.

Como já é sabido e empregado por vários técnicos e produtores, tanto o colostro excedente quanto o leite de transição (entre a primeira e sexta ordenha pós-parto) podem ser fornecidos sem problemas para bezerros em aleitamento. O colostro deve ser diluído na proporção de 2 L de colostro para 1 L de água devido a sua composição, enquanto que para o leite de transição a definição da relação de diluição varia de acordo com sua composição. Uma outra forma de utilizar estes alimentos no aleitamento de bezerros é adicioná-los ao latão de leite ou sucedâneo a ser oferecido para os animais, o que enriquecerá a dieta líquida final dos animais.

No entanto, em algumas situações a quantidade de dieta líquida disponível é superior ao total utilizado para o aleitamento dos bezerros, havendo necessidade de armazenamento. Além disso, produtores que avaliam a qualidade do colostro para armazenamento em banco de colostro podem obter grandes quantidades de colostro excedente com baixa concentração de imunoglobulinas, ou seja, inadequado para o fornecimento nas 2 primeiras alimentações, aumentando também a quantidade de alimento disponível.

O melhor método de conservação do volume de dieta líquida excedente é sem dúvida o congelamento ou até mesmo a refrigeração. No entanto, nem sempre existe freezer ou espaço disponível no freezer utilizado para o banco de colostro para o congelamento de grandes volumes de colostro ou leite de transição. Assim, a fermentação de colostro ou leite de transição se torna um método eficiente para seu armazenamento e fornecimento futuro.

O Colostro pode ser fermentado, armazenado por até 4 semanas e então fornecido para bezerros em várias refeições. O sucesso da adoção desta prática depende de algumas regras simples:

1. Limpeza

O sucesso do processo de fermentação de colostro depende da formação de ácido lático por bactérias. Inadequadas práticas de ordenha e containeres sujos ou inadequados para o armazenamento do material, podem resultar em contaminação com população bacteriana indesejável e consequentemente bezerros doentes. Comece o processo de armazenamento com containeres ou baldes limpos. Lave os mesmos após seu uso.

2. Escolha containeres adequados

Containeres plásticos são adequados para o armazenamento e fermentação do colostro. A utilização de sacos plásticos espessos dentro dos containeres pode auxiliar na redução da contaminação com bactérias indesejáveis além de reduzir o trabalho com a limpeza do container após a utilização do material. O volume do container a ser utilizado dependerá da disponibilidade de material para o armazenamento. Assim como para a conservação de forragem, para a ensilagem de colostro ou leite de transição é importante que se retire o máximo de oxigênio do meio. Importante que seja possível o fechamento do container ou do balde utilizado.

3. Não utilize colostro ou leite de transição de vacas com mastite ou em tratamento com antibiótico

Falhas no processo de fermentação podem ocorrer devido a utilização de material inadequado. O leite de vacas que receberam tratamento para secagem pelo menos 2 semanas antes do parto provavelmente fermentará de forma adequada. Colostro de vacas tratadas com antibiótico deverá ser fornecido fresco ou utilizado para aumentar o volume de colostro fermentado somente no momento do aleitamento. Nem todo colostro sofre fermentação de forma adequada.

4. Armazene em ambiente fresco e sem luz

O material deve ser armazenado em temperatura entre 5 e 27ºC, o que mostra que em grande parte do país seria necessário o uso de um refrigerador. Em temperaturas mais altas temperaturas a formação de mofo, a decomposição de proteínas, e a alta acidez podem ocorrer mais rapidamente. Nestes casos, os bezerros podem rejeitar o colostro fermentado que é bastante ácido e apresenta o coágulo e o soro separados. Em ambientes com temperaturas moderadas (menor que 25ºC) a fermentação resulta na produção de ácido lático e pH final de aproximadamente 4,5.

No entanto, em regiões de clima quente pode ocorrer fermentação inadequada, normalmente putrefativa, resultando em alimento não adequado para o fornecimento aos bezerros. Assim, nestas condições climáticas é necessário o uso de preservantes como os ácidos acético, propiônico e fórmico ou ainda o formaldeído. No entanto, a necessidade de uso de compostos cáusticos e tóxicos para a preservação de colostro reduziu sua popularidade.

5. Misture diariamente

Esta prática previne que ocorra coagulação ou separação de soro e coágulo. Utilize um utensílio limpo para esta tarefa, lembre-se que a contaminação com bactérias indesejáveis resultará em um alimento de menor qualidade. Quando o saco plástico for utilizado tome cuidado para não rasgar o mesmo. Mantenha os containeres sempre fechados. Uma pequena quantidade de mofo pode ser tolerada, mas quando esta for alta é melhor descartar o material.

6. Não armazene por mais de 4 semanas

Principalmente durante o verão, esteja pronto para utilizar o material em menor período de tempo. De qualquer maneira, durante o período quente do ano será necessário o uso de um preservante para manter a acidez ou o pH do colostro, reduzindo o aparecimento de mofos.

7. Colostro fermentado pode ser acrescido de leite descarte ou de sucedâneo

Se a quantidade disponível de material fermentado não for suficiente para os bezerros até o desaleitamento, este pode ser misturado a leite descarte ou sucedâneo de forma a realizar uma adaptação do bezerro a nova dieta líquida. Evite realizar mudanças bruscas na alimentação animais pois invariavelmente resultará em casos de diarréia.

O primeiro trabalho referente ao fornecimento de colostro ou leite de transição fermentado data do início da década de 70 e estimulou uma série de trabalhos nesta área nos anos subseqüentes. De maneira geral, se observou que a fermentação de colostro e leite de transição resulta em alimento de boa qualidade que permite taxas de ganho de peso comparáveis àquelas observadas com o fornecimento de leite ou sucedâneo, desde que as condições de manejo alimentar e sanitários sejam adequadas.

Colostro ou leite de transição fermentado pode ser fornecido a bezerros em aleitamento, sendo, no entanto necessária a diluição de 1 parte de água para 2 partes do material fermentado. A utilização de água morna para esta diluição ajuda a tornar a dieta líquida mais aceitável para os animais.

É importante lembrar que a utilização de colostro ou leite de transição fermentado resulta em grande variação diária na composição da dieta líquida, podendo resultar em maior freqüência de diarréia alimentar. No entanto, dos produtores que se utilizam deste material para o aleitamento de bezerros, poucos reportam aumento de casos de diarréia em seus bezerreiros.

Se houver caso de diarréia, descontinue o fornecimento por um dia e depois retorne com aumentos graduais na dieta líquida total até que o colostro fermentado volte a representar 100% da dieta. Assim, a bezerra estará sendo readaptada ao colostro fermentado. Segundo produtores que adotam esta dieta líquida, uma dica é fornecer o colostro frementado logo após a colostragem dos animais, ou seja, já a partir do 3º. dia de vida.

O último levantamento do Sistema de Monitoramento Nacional de Saúde Animal dos Estados Unidos, realizado em 2003, mostrou que embora esta prática fosse bastante popular nas décadas de 70 e 80, caiu em desuso devido ao aumento no trabalho relacionado com o armazenamento do material fermentado e necessidade de espaço físico para o mesmo. Assim, a maior parte dos produtores se utiliza tanto do colostro excedente quanto do leite de transição em combinação com leite descarte para o aleitamento de bezerros diariamente. Isso reduz o trabalho com práticas de armazenamento e espaço para o mesmo, além de problemas com alterações na composição da dieta líquida dos animais.

Literatura consultada

CLAPP, H.J.. Sour Colostrum - Starting the Dairy Calf. Facsheet ISSN 1198-712X http://www.omafra.gov.on.ca/english/livestock/dairy/facts/81-048.htm

DAVIS, C.L.; DRACKLEY, J.K. The development, nutrition, and management of the young calf. Ames: Iowa State University Press, 1998. 339p

MEINERSHAGEN, F. Raising Calves on Stored Colostrum. http://extension.missouri.edu/explore/agguides/dairy/g03555.htm

0 comentários:

Postagem mais recente Página inicial Postagem mais antiga